A fome

Tenho fome.De tudo aquilo que me tira o ar.Desejo comer os meus problemas para digeri-los….Desejo comer a própria fome,e também a raiva, a angústia.Devorar a dor.Essa dor de perda.Uma dor de nada.Desejo mastigá-los, um a um,o desespero,os detestáveis e desprezíveis homens que insistem em permanecer,as famigeradas verdades que proclamamos em palanquessob bandeiras moralistas.

Eu odeio a fome.
Porém, ela é a única certeza,
uma certeza animal, selvagem,
de que sempre falta alguma coisa,
de que sempre, assim,
seremos eternos escravos do outro.

eu, poeta-palhaça

Eu, poeta palhaça
Conjunções metafóricas em planos diversos de cores
na lingüística dos contatos e sensações.
Camuflando o que não é camuflável.
Desachando o achável.
Embolando o imbolável.
Desconstruindo o mundo que explode no meu corpo.
Gargalhando a lágrima
e lacrimejando exageradamente, em dores,
a grande alegria da alma-palhaça,
palhaça-poeta,
poeta do universo que grita e chora e sofre e ri… muito.

Concreto

Concreto armado no viaduto urbano
que liga meu coração ao pé.
Mora uma cidade em mim!
Mesmo a rima pode não ser poesia.
Mesmo o amor, a dor, o infinito.
Só é poesia quando os sentidos
quebram um vidro na garganta.

Um futuro

Depois, quando tudo estiver consumado, vamos rir.

Vamos rir como riem os mortais
na instantânea alegria do gozo.

Depois do choro, vamos rir.

Gargalhar a felicidade
momentaneamente eterna

da paixão delirante.

E vamos dobrar as esquinas
sem receio do terror da solidão
e invadir terrenos docemente próprios
ao cultivo do prazer de se estar vivo.

E forjar jardins de libélulas gigantes
que da sombra se iluminam à lua cheia.

Então diremos:
Um brinde quente à vida!
Um brinde alucinado à paixão!