A saída para o mar

Eu sei, ainda que não a veja
Ela está sempre lá
Na direção da janela do meu quarto
A saída para o mar aberto que amplia esta baía
Onde uma fortaleza já perdeu o seu sentido
E não é nada mais agora que uma bela obra de arte
Como se tornam todas as obras de arte com o tempo
Puro vazio…
Sangue que ficou num lugar desconhecido
Mais bela quando o mar se agita
E em sua muralha as ondas quebram indiferentes
De lá de cima posso vê-la melhor
Conversam as obras artísticas
A de onde estou, utopia de arquiteto
E a que te abriga aí embaixo, no mar
O passado e o presente em conversa
Tecendo um futuro já tão próximo
Que posso sentir o seu cheiro
Ele entra sempre pela minha janela
O vento é sua carruagem
Naquelas noites calmas
Em que os ônibus dão trégua de fazer passagem
E não há adolescentes a gritar no pátio
Só a luz do museu encoberta por uma neblina clara
E a minha velha conhecida inquietação
Nem mesmo as paredes tão sufocantes
Desse apartamento podem me impedir senti-lo
Já impregnou meu corpo
Não há mais volta
É caminho certo
Tortuoso e coberto de perigos
Mas definitivamente certo

Autor: Vanessa Rocha

Escritora ensaísta, de ficção e de poesia. Palestrante, pesquisadora e professora. Doutoranda em Ciência da Religião, especialista em Psicologia Analítica, Mestra em Comunicação e Cultura, Produtora Cultural e Artística. Quatro livros publicados e contando...

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

%d blogueiros gostam disto: