Hoje eu vou falar sobre uma série que entrou para a lista das 10 séries mais assistidas da história da Netflix – Dahmer: um canibal americano – que conta a história, ficcionalizada, do serial killer Jeffrey Dahmer. E não contente em produzir esta série, a Netflix ainda lançou hoje, dia 7 de outubro, um documentário sobre o caso.
Para mim essa foi uma série bem difícil de assistir, pois ela fala de uma história real e intragável que nenhuma história de terror de ficção chega perto. Até hoje, o mais perto que eu cheguei de sentir um asco profundo com uma ficção de terror foi lendo o livro “A narrativa de Arthur Gordon Pym”, que é o único romance de Edgar Allan Poe e até tem uma questão semelhante a de Dahmer, num ponto bem específico do livro. Ainda assim, a história não se aproxima de Jeffrey Dahmer e por uma razão muito simples: a de Dahmer é real e nos leva a questionar os limites da nossa humanidade.
De fato, como o nome da série em inglês nos diz, Dahmer foi um monstro. O primeiro episódio é bem incômodo. Depois dele eu achei que eu não ia conseguir assistir, mas eu queria muito chegar ao final porque o tema do Mal, das sombras e da violência é o meu tema atual de pesquisa – e eu gosto de ver também como a indústria cultural lida com o tema, porque isso revela muito da nossa sociedade e do inconsciente coletivo. Como a mente tem lá as suas formas de criar filtros e lidar com as coisas, depois de uma noite de pesadelo eu consegui aos poucos engrenar e os últimos episódios eu já assisti de uma vez só.
Mas a série não tem muitas cenas explícitas de violência. Muita coisa é sugerida. Só que isso torna tudo ainda mais tenso, porque a capacidade da mente de imaginar é infinita e poderosa. E isso pode ser uma armadilha. Então, se você não tem um estômago muito forte, sinceramente, melhor não assistir. Mas fica aqui comigo, porque mesmo falando sobre a série, na verdade, a série é um pretexto para uma reflexão sobre esse mal avassalador e sobre a violência da nossa cultura.
A série é uma produção de Ryan Murphy, muito conhecido e celebrado na indústria cinematográfica, e que tem o horror e as mentes perturbadas como um de seus temas de trabalho preferidos. Os outros temas são a homossexualidade, os excluídos de todo tipo, as histórias de superação. Entre seus sucessos estão Glee, Ratched, Hollywood e Comer, rezar, amar. Murphy é conhecido ainda pela lendária série de horror American Horror Story, e é de lá também que saiu Evan Peters, ator que interpreta Jeffrey Dahmer, e que disse que esse foi o papel mais difícil da sua vida. Dá para entender o porquê assistindo à série… E olha que ele já interpretou outros serial killers na carreira dele. Eu espero sinceramente que Evan nunca largue a sua terapia, porque eu não sei como alguém consegue mergulhar tanto assim na escuridão da alma de uma forma tão visceral sem pirar. O trabalho de Evan Peters na série é fenomenal! Eu confesso que eu precisei assistir algumas entrevistas com ele depois, com a cara dele mesmo, pra tirar da minha mente a imagem dele como o Dahmer, porque eu fiquei muito impressionada e até esqueci o rosto do próprio Dahmer real. Se tem um motivo para assistir à série, é esse, a atuação de Evan Peters. O outro motivo são as questões sociais abordadas, muito embora não seja realmente necessário contar a história de Jeffrey Dahmer para falar desses assuntos. Um outro ponto é a explanação do mal que nós, seres humanos, somos capazes de dar vida e o qual não podemos ignorar. Mas quanto a isso, a gente pode até questionar a existência da série. Embora séries de true crime sejam interessantes, e eu acho que elas devem ser produzidas porque mostram aspectos importantes da nossa sociedade e da nossa psique que a gente não pode fingir que não existe, tudo depende: por exemplo, de como a história é contada, em que momento e contexto. O contexto do caso Jeffrey Dahmer é o da exploração excessiva da sua história e é delicado revisitá-la o tempo todo. Há uma infinidade de livros e documentários sobre ele, e cada um com o seu ponto de vista, revivendo de tempos em tempos essa história sem dar grandes explicações. Há outros contextos em que uma história de crime é revisitada de maneira mais cirúrgica, na tentativa de explicar o nascimento de um serial killer, o que é uma proposta bem interessante.
Vou dar um exemplo do próprio Ryan Murphy que eu acho muito feliz: a série American Crime Story. Ele é um dos produtores da série e esteve bastante envolvido com a segunda temporada, “O assassinato de Gianni Versace”, que conta a história de outro assassino em série, o Andrew Cunanan, que ficou famoso por sua última vítima, o estilista Versace. Na série, Ryan une todos os seus interesses e conta uma história muito coesa, numa produção incrível, sobre como a obsessão e outros desequilíbrios psíquicos são agravados e, em alguns casos, gerados por uma cultura preconceituosa e violenta contra os mais diversos modos de viver. A série costura muito bem essa relação entre a sociedade e o nascimento de um serial killer.
Embora o caso de Jeffrey Dahmer guarde uma semelhança ou outra com o de Andrew Cunanan, por exemplo, no fato de ambos serem homossexuais e matarem apenas homens, ele é diferente. O nível de monstruosidade, que envolvia mutilação, esquartejamento e canibalismo, é o que assusta e nos deixa sem respostas sobre qual a origem desse mal, embora se possa especular muita coisa. Talvez seja por isso, por essa falta de uma resposta conclusiva, que não nos cansemos de revisitar essa história. Eu sinto que a série tenta uma explicação, ainda que a única explicação possível seja complexa, mas fica passeando e tateando, como se fosse encontrar uma resposta que nunca chega. Vai na infância de Jeffrey, nos dramas familiares, no alcoolismo, na pressão que homossexuais sofrem em uma sociedade heteronormativa e na permissividade de uma sociedade branca e racista. Mas nada disso explica a monstruosidade de Dahmer, pois se assim fosse produziríamos serial killers como ele em massa, ainda que serial killers sejam um fenômeno que não podemos ignorar.
No caso de Dahmer, não é possível saber qual foi o gatilho que despertou nele um desejo mórbido e sombrio de matar, e ainda mais, do jeito que ele matava. No entanto, se não é o drama familiar e a sociedade que criam monstros como Dahmer, não dá para desconsiderarmos que os desequilíbrios familiares e coletivos estimulam que uma monstruosidade latente possa se expressar externamente. Uma das cenas mais interessantes para mim, nesse sentido, é a que ele tenta conversar com o pai, Lionel Dahmer, alguém em quem ele confiava e a única pessoa com quem ele teve uma relação próxima de amor, ainda que de formas um pouco tortas: ele se dobrava sempre aos comandos do pai, mesmo que não sustentasse suas decisões depois. Quem sabe fazia isso numa tentativa de nunca perder esse que era o único amor que ele tinha… Ele sempre se disse muito solitário, tinha uma ferida de abandono, que muitas pessoas têm, mas isso não faz de ninguém um monstro. Na conversa com o pai, numa tentativa de pedir ajuda, Jeffrey tenta falar sobre suas fantasias, porque ele tinha medo do que poderia vir a fazer e do que já havia feito, segundo ele, sem querer. A primeira morte não parece ter sido premeditada. O pai, assustado com o início da conversa, não sabe o que fazer e muda de assunto, espelhando a nossa incapacidade de lidar com os tabus e os assuntos mais sombrios da natureza humana. Simplesmente porque, ao invés de falarmos sobre eles, nós os tememos e fingimos que eles não existem. Fingimos ainda que sabemos quem é o outro. Queremos que nossos filhos, pais, irmãos e irmãs, parceiros e parceiras sejam a nossa projeção sobre eles. Mas a verdade é que não os conhecemos. Nem sequer conhecemos muito de nós mesmos. E essa é a nossa culpa coletiva: o medo da nossa própria natureza atrasa o nosso desenvolvimento como pessoas e como sociedade. Talvez se o pai tivesse tido coragem e estrutura para ouvir o seu filho, a história poderia ter sido bem diferente, embora, ainda assim, pudesse esbarrar em contextos perigosos, como na biologia do crime, que traz dilemas éticos profundos. O que fazer com alguém que diz ter vontade de mutilar pessoas e matar, especialmente se esse alguém for o seu filho? Estamos preparados para dar uma resposta pela perspectiva da saúde mental e coletiva, ou nosso impulso será sempre o de punir e matar? Mas como esse pai poderia ter tido força interna para ouvir o filho e fazer essa pergunta, se somos ensinados não a lidar com a complexidade da vida, mas a fechar os olhos para ela, a nos sentir culpados por ser quem somos e a cumprir os papeis esperados de nós!? Como!?
Dito isso, um outro aspecto que merece a nossa maior atenção na série é como ela expõe o racismo. A trajetória de Jeffrey Dahmer deixa claro que se ele fosse um homem negro, muito provavelmente teria ido parar na prisão antes mesmo até que matasse alguém. Mas o fato de ser branco livrou a cara dele várias vezes, inclusive em momentos em que a polícia esteve muito perto de pegá-lo. Os muitos avisos à polícia de que havia algo de muito errado no apartamento de Jeffrey, pela vizinha Glenda, interpretada maravilhosamente pela atriz Niecy Nashe, são angustiantes e reveladores dessa realidade do racismo. Em um dos episódios, ouvimos ao final a gravação real de um telefonema da Glenda real para a polícia, polícia essa que se mostra racista e homofóbica, logo, conivente com Jeffrey Dahmer. E depois esses policiais ainda ganham um prêmio. Acreditem!
Entre 1978 e 1991, Dahmer violentou, matou e esquartejou 17 homens e garotos. Apenas os 2 primeiros, que ele dizia ter matado acidentalmente, eram brancos. Os demais eram negros, em sua maioria, mas também indígenas e asiáticos, todos homens gays. Além de ter exercido a torto e a direito o seu privilégio branco, Dahmer teria ódio de homens? Não se aceitaria como homossexual? Em uma de suas entrevistas ele disse que tinha vergonha de ser gay. O que revela não necessariamente uma característica pessoal, mas a nossa incapacidade como sociedade de acolher e aceitar as diferenças. Essa hipótese do ódio aos homens, e de si mesmo, é apenas uma das hipóteses possíveis, mas que também não explica ele ter se tornado o que se tornou.
A série traz como objetivo expor essa realidade do racismo, do privilégio branco e da homofobia, e sinto que ela faz um esforço sincero para focar uma parte da história nas vítimas. Acho que consegue até certo ponto. O episódio do julgamento e o episódio 6 são exemplos disso. O episódio 6 conta a história de Tony. Para mim, foi um dos episódios mais bonitos e mais tristes também, porque a gente vê não apenas um vislumbre de luz no Jeffrey Dahmer, quando ele tenta lutar contra o que ele dizia ser a compulsão dele, mas principalmente porque conhecemos a história de um garoto muito luminoso, talentoso e cheio de sonhos, que teve a sua vida interrompida pelo seu encontro com o serial killer.
Há na série também uma outra denúncia, se é que podemos chamar assim, bem interessante e necessária, que é sobre o tratamento violento dado às mulheres em nossa sociedade. A medicalização excessiva da mãe de Dahmer durante a gravidez lembra os primeiros estudos sobre a histeria, que naturalizava a loucura na mulher. A mãe de Dahmer tinha depressão, tentou se matar algumas vezes e não teve apoio familiar e social necessário para lidar com isso. A forma ainda como o pai de Jeffrey tratava a sua esposa era agressiva, misógina e acusativa. Foi nesse ambiente que cresceu Jeffrey Dahmer. Por mais que isso não tenha gerado a sua monstruosidade, pois o seu irmão cresceu no mesmo ambiente e não é um serial killer, pode ter disparado dentro dele, ainda criança ou na adolescência, algo já latente nele, um mal para o qual toda explicação parece ser insuficiente.
Pois há um mal que não possui explicação psicológica, sociológica ou qualquer outra que dê conta. É tudo e mais um pouco que desconhecemos. Talvez tenhamos que simplesmente lidar com essa angústia, essa ausência de uma resposta satisfatória. Essa é a própria hipótese de Jeffrey Dahmer em uma conversa muito interessante que ele tem com um padre, dentro da prisão, que a gente vê no penúltimo episódio. Ele pergunta para o padre se ele acredita que há algo como simplesmente ser mal, sem explicação. O padre diz que sim e eles têm uma conversa bem curiosa sobre os vilões do cinema. Mas há outra pergunta que Dahmer faz ao padre que parece ser uma pergunta que devemos nos fazer: porque há tantos serial killers atualmente? Ele pergunta isso ao ver na TV a história de John Gacy, outro serial killer famoso dos EUA, conhecido como O Palhaço Assassino. Dahmer questiona ao padre: porque há tantos outros como eu hoje? Não temos a resposta facilmente, mas a pergunta precisa ser feita, e a resposta talvez esteja nessa combinação explosiva de medo de nós mesmos com uma cultura opressora, segregadora e segregativa, somados à nossa dificuldade em lidar com essas manifestações sombrias da nossa psique. Quem espera uma resposta fácil, parece ser um pouco ingênuo.
É curioso perceber uma clareza em Dahmer quando ele faz essa pergunta. Ele também queria se entender. Parece que sempre esteve muito consciente de que o que fazia era errado, o que ele mostra nas suas entrevistas. Quando foi preso, pediu para ser morto. Só não foi porque o estado de Milwaukee não tem pena de morte. Ele não era um psicopata, diferente de algumas análises que estão sendo feitas por aí. Psicopatas seduzem aos poucos, não estabelecem vínculos mas fazem o outro acreditar que esse vínculo existe, e não se arrependem ou sentem culpa alguma. Jeffrey Dahmer parecia sentir culpa, tinha dificuldades de se relacionar e se apegava ao extremo aos outros. Queria literalmente devorá-los para que fizessem parte dele. Drogava as suas vítimas antes de mutilá-las e matá-las, segundo ele, para que não sentissem dor. Mas afirmava também não conseguir parar de fazer o que fazia, como uma compulsão. Pesquisei pelo diagnóstico psiquiátrico dele e encontrei que ele foi diagnosticado com borderline em um alto grau, que é um transtorno que deixa a pessoa extremamente instável, além de transtorno psicótico e esquizoide. Mas mesmo que esse diagnóstico traga alguma explicação, ainda fica a questão: como lidar com isso e como esses fatores podem levar a uma expressão radical daquilo que chamamos de Mal?
A questão do mal é uma das mais antigas da humanidade. Nos intriga como nós, seres humanos, podemos carregar um nós um potencial de destruição avassalador, que produz verdadeiros monstros. O mal aniquila. Destrói não apenas a vida, mas a própria morte como expressão natural da vida, ao desejar controlar e subjugar tanto a vida quanto a morte. Não há uma resposta fácil para o Mal. E é a curiosidade por essa parte da natureza humana que faz com que séries como essa tenham sucesso. Somos tentados não apenas a querer saber, mas a ver imagens, como uma forma de dar vazão a algo muito primitivo da psique humana. Somos todos, afinal, crias de uma história civilizatória sangrenta e feitos de uma carne que sangra e se deteriora. Por mais que não lidemos com isso diariamente, a nossa memória genética sim. Acredito ainda que o nosso interesse por essas histórias passa também pela própria necessidade da nossa psique de se conhecer – isso é natural em nós. Ao olhar para o outro, nos perguntamos, ainda que de forma inconsciente, se nós seríamos capazes ou não de fazer o que o outro faz, avaliamos nossos desejos mais íntimos, nos aliviamos por descobrir que temos asco de certos comportamentos.
Mas sempre que se aborda histórias reais como essa na indústria do audiovisual, há que se lidar com a fragilidade do limite entre a luz e a sombra. Uma coisa é dar vazão à essa necessidade humana na ficção. Outra coisa é ficar remexendo nas histórias reais. No caso da série Dahmer, mesmo que Ryan Murphy e sua equipe tentem chamar a atenção para necessários temas sociais e para a dor das vítimas, eles acabam fazendo também o que toda série que conta histórias de serial killers fazem: espetacularizam o assassino. Na época em que estava vivo, Dahmer se tornou uma verdadeira celebridade. Recebia carta dos fãs na prisão e virou até personagem de quadrinhos. É o que vemos nos últimos episódios da série, onde quase vemos também uma redenção de Dahmer. Eu achei essa sequência final bem complicada em termos de edição, porque ela pode despertar dubiedades. Ele é morto espancado por um outro homem dentro da penitenciária, um homem negro. Até aí, tudo bem. Essa é a história real. Mas a cena acontece depois dessa tentativa de redenção, quando Dahmer pede para ser batizado e diz que está se esforçando para mudar. Entendo que a cena tem um caráter de vingança, mas é delicada porque coloca um homem negro matando um homem branco depois que ele estava tentando se redimir. Uma distração do espectador já pode fazê-lo reiterar o racismo e esquecer tudo o que Dahmer causou aos 17 homens que matou e às suas famílias. Enfim, esses episódios finais são complicados.
Atualmente, Jeffrey Dahmer é também um dos assuntos mais procurados nos mecanismos de busca online e é claro que a Netflix sabia que seria assim, e que seria sucesso a primeira versão romanceada da sua história. Transformar o mal em espetáculo é uma especialidade da indústria cultural. E o fato de ficarmos falando sobre isso, eu inclusive e todo mundo que vem falando sobre a série, já nos mostra que estamos todos enredados na sombra. Juntos. Não parece importar que tipo de consequência negativa – psíquica e social -, revisitar muitas vezes essa história pode trazer. O que isso revela senão o fato de que, no fundo, por mais que a gente ame filmes e séries, o que move a indústria cultural é a imoralidade? Uma cilada do capitalismo dos anéis da serpente, como diria o filósofo francês Deleuze, um capitalismo descentralizado, onde o “centro” está por toda parte, que tudo controla porque tudo absorve como válido. Ao mesmo tempo, há que se considerar que talvez essa imoralidade pode nos trazer respostas para os dilemas sociais, diante do peso que a indústria do audiovisual tem hoje em nossa vida e em nosso imaginário. Quando as histórias polêmicas vêm à tona, podemos lidar com os seus temas. Do contrário, sem mexer nelas, a gente fica sem saber o que pode emergir debaixo do tapete.
A série foi duramente criticada pela família de uma das vítimas, que está cansada de ter que se esquivar dos inúmeros programas, filmes, livros e séries sobre o caso. Não basta terem que lidar com o trauma na própria vida e memória, precisam lidar com toda uma indústria explorando a história que causou o seu trauma. É fácil compreender a perspectiva das famílias. Mas eu também compreendo o lado dos pesquisadores e de todas as pessoas que se interessam pela história de Jeffrey Dahmer, porque ela é tão radicalmente monstruosa que produz em nós um questionamento profundo sobre quem somos nós. E eu acredito que a gente precisa conhecer essa história, saber o tamanho do mal de que um ser humano é capaz. Repito: é por fingir que essa escuridão não existe, que ela pode se tornar cada vez maior.
Ao mesmo tempo, explorar em demasia uma mesma história para a qual todo mundo tem um ponto de vista, mas nenhum deles é conclusivo, pode ser apenas mais uma das armadilhas desse capitalismo hiperconectado e imoral que nos dá a ilusão de que estamos no controle e sabemos exatamente o que estamos fazendo. Só que não. Lembremos uma máxima de Freud: não somos senhores em nossa própria casa! Mas como escapar? Como ignorar as ondas coletivas? Como não se deixar seduzir? Como falar dos temas difíceis, abordá-los, sem cair na espetacularização vazia que apenas se alimenta do gosto mórbido pela violência? As perguntas seguem em aberto e Dahmer: um canibal americano, pode ser uma das séries mais intrigantes e interessantes de true crime e vir a alavancar ainda mais a carreira de Evan Peters, merecidamente. A questão é: a que custo? Fica essa pergunta também no ar, pra gente pensar. Respostas fáceis são tão perigosas quanto evitar o assunto.